Wednesday, July 30, 2008

A despedida

Daqui a pouco vou dar a minha última aula de Português para Estrangeiros. Confesso que estou com um friozinho na barriga. Tenho pena de deixar de dar estas aulas que amei leccionar. Tenho pena de saber que estes alunos vão, mais cedo ou mais tarde, partir para os seus países de origem e o mais provável é nunca mais os voltar a ver. Sim, porque os alunos portugueses sabemos que os podemos voltar a ver, nem que seja, por um acaso, num shopping ou num supermercado... como me tem acontecido. Mas com estes alunos em particular a situação é totalmente diferente!

A despedida é das situações mais ingratas na vida de um professor, pelo menos para mim. Isto porque torna-se muito complicado depois de tanto tempo, num contacto quase diário, depois de tanta partilha (em ambos os sentidos), depois de darmos tanto de nós e recebermos tanto também, despedirmo-nos daqueles seres humanos, que estiveram à nossa frente. Claro que há alunos e alunos, alguns não dão pena alguma em vê-los ao longe.

A despedida dos alunos mais novos, de Erasmus, custou imenso. Eles regressaram mais cedo. Um deles, um indiano, ofereceu-me uma manta indiana como prenda de anos, pois lembrou-se que o meu aniversário será no próximo dia 31... foi algo que me tocou em particular. Ainda por cima porque este era um aluno extremamente interessado, adorava saber a razão de tudo, esforçava-se por pronunciar correctamente as palavras mais difíceis, estava sempre pronto para ler ou criar diálogos mediante um dado contexto. Quando levei uma música de Rui Veloso, foi logo o primeiro a pedir o CD para ouvir em casa. Era muito castiço.

Daqui a umas horas vou dar a última aula e despedir-me dos restantes, vai ser emocionalmente complicado, espero não desabar, com tanta emoção.

Fica o desejo de voltar a repetir esta experiência interessantíssima, acima de tudo pela troca de experiências, saberes e consciências culturais.

2 comments:

Benedictus said...

Blondie, sua afortunada...
Não é qualquer pessoa que tem a aoportunidade, como tu, de conviver tão amiúde com pessoas de realidades tão diferentes da nossa.
Independentemente das diferenças entre povos (que as há, e muitas), esse é o tipo de partilha que nos faz crescer e evoluir.
Não me esqueço de um rapaz que eu conheci, Polaco, que estava de Erasmus cá em Guimarães. Quando chegou cá, o jarek vinha acabrunhadíssimo...lembro-me bem do quanto me custou arrancar aquele gajo de casa. Acabou por ter uma integração fantástica, fez montes de amigos aqui e, passados anos, voltou para cá, depois de acabar o curso, já casado, para trabalhar na Universidade do Minho, enquanto acaba o doutoramento.
Acho sinceramente que foi exactamente esse nível de "partilha" que o mudou como pessoa. E mudou-me a mim também...

Blondie said...

É bem verdade! Acredita que me senti bem afortunada quando me chamaram para desempenhar tal função. Por um lado, porque tive a oportunidade de leccionar numa faculdade, cuja realidade é bem diferente da das escolas, por outro lado ( e mais importante) porque tive a oportunidade de contactar com pessoas oriundas de vários locais do mundo. Sem dúvida que me fez crescer e tornar-me ainda mais tolerante à diferença.

Ainda bem que esse rapaz te encontrou :) foste uma preciosa ajuda para ele. Eu nunca esutudei no estrangeiro, mas acredito que deva ser bastante complicado, pelo menos nos primeiros tempos.

Obrigada pela partilha ;)

Beijinhos