Monday, July 02, 2007

I´m addicted to...

Há vícios que são saudáveis, não engordam, nem fazem mal à saúde física e mental, muito pelo contrário. Um deles é este programa na RTP2, o qual recentemente mudou de horário, passando para os domingos. Alguém deve ter ouvido as minhas preces, porque passar um programa destes às sextas à noite, era um crime.
Ontem, assisti ao programa. O convidado era Helder Macedo. Gostei bastante de o ouvir, excepto nalgumas considerações que fez. Eu sei que as ditas declarações são válidas e verdadeiras, mas entristecem-me.
Helder Macedo afirmou que a literatura de entertenimento é a que caracteriza uma sociedade, é essa mediocridade, essa literatura medíocre, que caracteriza os leitores de uma sociedade. É um Stephen King (ou um Dan Brown...acrescento agora eu) que caracteriza a sociedade e não um Joyce. Até porque é o primeiro que cria e chama leitores e nunca o segundo.
Correndo o risco de ter uma visão romântica, eu quero acreditar que isto possa ser passível de mudança. O povo pede o que está habituado a receber.
A literatura de entertenimento chama leitores, é verdade. Mas será que é esse tipo de literatura que queremos que a maioria das pessoas consumam? Será que está presente a ideia, de que as pessoas podem ler até a maior das porcarias que se escrevem por aí, mas o que interessa é ler.
Pessoalmente não concordo muito. Acho que as escolhas das pessoas são pautadas pelo seu universo, por aquilo que conhecem. Considero que este seja um problema de base, educacional, mesmo.
Se nas escolas se começasse a dar a conhecer mais autores de referência, o leque de escolha das pessoas seria mais alargado e, consequentemente, as suas escolhas literárias, seriam bem mais ponderadas e conscientes.
Não quero acreditar que um Dan Brown tenha mais poder e seja mais representativo
que um Umberto Ecco!!
É impensável, uma realidade dessas!!
Sei que o meu discurso neste post não é dos melhores, mas é que se há coisas que mexem comigo, esta questão é uma delas: a forma como se tratam as artes e a literatura, em particular!

7 comments:

Sofia said...

E o pior é saber que Paulo Coelho faz parte da Academia Brasileira de Letras - tornando-se um imortal da Literatura.
Penso que muitos se reviraram no túmulo com essa constatação.
Abraços,

Gonçalo Veiga said...

Hmm... Bom post!

Bem, também não acho muita graça a determinado tipo de "literatura", em particular a denominada light.

Acho que este é um tema complexo. Acho que as obras que são leccionadas nas escolas são um pouco... digamos, chatas? E talvez um pouco aborrecidas? Isto é o que me lembro. Confesso que na altura em que estudava literatura gostava mais de fazer outras coisas como jogar à bola ou tocar guitarra ou fazer nada, e hoje aprecio bastante literatura e bons livros.

Penso que nem todos estamos talhados para apreciar a grande literatura universal ou os clássicos da Antiguidade ou os Neo-clássicos, como por exemplo os Lusíadas do nosso Camões. No meu caso particular aprecio bastante os russos do século XIX, os ingleses do final do século XIX e princípios de XX, e os autores norte-americanos de 50 a 70 do século XX. E isto não inclui Joyce... que sinceramente acho um pouco aborrecido. Não que não seja bom, mas... não é o meu género. No entanto, nunca passei pela fase dos 5 da Blyton ou Uma Aventura, pelo que não acho que se deva "administrar" este tipo de literatura às crianças, mas antes dar-lhes a escolher. Como na sociedade. Nem todos podem gostar de Hemingway ou de Knut Hamsun, mas se as massas despertarem para a leitura através da literatura "light", que seja. O progresso da civilização faz-se por fases: primeiro rasteja-se, depois anda-se e depois corre-se. Ás vezes sinto que certos intelectuais gostariam que o mundo lesse tudo de que gostam e por isso fazem a separação entre boa literatura e má, quando na verdade isto pode não ser verdade para todos. Eu costumava trabalhar numa livraria e confesso que por vezes torcia o olho a certas compras de clientes, mas quando pensava melhor acreditava que ao menos estão a ler e que talvez os filhos destas pessoas se interessem também, e assim evoluir na leitura através das referências parentais.

Acho que vou parar por agora! Acho que nunca escrevi um comentário tão extenso! ;) :p

avelaneiraflorida said...

Não sei o que aconteceu ao meu comentário...se calhar "fugiu"!!!!

Mas repito:
Entre um D. Brown w um H.Ecco claro que prefiro ,de longe, o segundo...como prefiro tantos outros que fui descobrindo, que estou, ainda, a descobrir!!!!!

Não de pode "ensinar a gostar de ler"...sabemos isso, mas pode-se ir associando gostos, deixando pistas,mostrando coisas, e...talvez se consiga "ganhar" a paixão da leitura em algumas pessoas...
Eu, pelo menos, não deixo de tentar com os meus BESOUROS!!!!!

minds said...

Belo post!!!

Boa semana

Blondie said...

Sofia,
pois... :(
Bjs

Gonçalo,
eu acho que a literatura dada nas aulas de LP, poderia passar por uma reforma. Exige-se muito pouco dos alunos, eles não são atrasadinhos, os jovens têm imensas potencialidades que podem ser exploradas a nível da leitura ( e não só, claro). Obviamento tendo em conta o nível dos jovenzinhos.

Eu adorei o teu comentário, realmente deste uma perspectiva bastante optimista sobre os supostos "estádios da leitura" :-D no entanto, acho que se as pessoas não tiverem conhecimento de obras mais íntegras, mais "valiosas", provavelmente nunca irão suscitar a vontade de ler as mesmas. Criando assim monstros, nas suas mentes.
Tal como já vi pessoas a escolherem livros pelo número de páginas (reduzidas), como se o prazer da leitura se medisse pelo nº de páginas.

Por essas e por outras, acho imperativo que se apresente obras de qualidade na escola, começando pelos mais pequeninos. Por exmplo, existe uma edição da "Mensagem", com ilustrações lindíssimas, dedicadas aos jovens.

Aposto que, como já trabalhaste numa livraria, deves ter visto coisas incríveis.

Beijocas


Avelaneira,
ainda bem que trabalhamos para a mesma causa ;)
Também prefiro Umberto Ecco, um dos meus autores preferidos. Que me conquistou com "Seis passeios pelo bosque da ficção"
Beijocas

Gonçalo Veiga said...

Sim, é bem verdade. Essa é uma alternativa interessante, a de livros com ilustrações ou apresentados numa linguagem simplificada, acessível a idades mais novas e desenvolvimentos mentais menos evoluídos no campo da leitura. Acho que sou um pouco piagetiano nestas coisas: dar a cada um o seu tempo e não sobre-estimuladar. No entanto, como referes, é importante estimular e aliciar as crianças (todos os escalões etários) para a leitura.

Nunca me vou esquecer desta entrevista do Miguel Esteves Cardoso onde ele afirma que se todos lessem já não haveria mais problemas no mundo: cada um a seu canto a ler, respeitando a leitura do vizinho e interessando-se mais pelas suas páginas de letras do que em fazer qualquer acção despropositada.

A Leitura é a 3ª via! hehe

Gonçalo Veiga said...

* sobre-estimular (ups!)