O Recreio
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar-
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Blouçar-se enquanto vive...
- Mudar a corda era fácil...Tal ideia nunca tive...
Paris, Outubro de 1915
Mário de Sá-Carneiro
A nossa vida parece um baloiço, ora balança mais depressa, ora balança mais devagar.
Às vezes a cadência do balanço é perfeito, outras vezes o balanço entra em desequilíbrio.
Às vezes parece que vamos cair, outras vezes sabemos que estamos bem presos, bem seguros. Às vezes alguém nos empurra, outras vezes somos nós que damos o balanço necessário.
Há quem desista do baloiço e se lance num impulso para o abismo, há quem aproveite o balanço até ao final.
Às vezes o nosso balanço toca o abismo, outras vezes toca o sonho.
Inevitavelmente o tempo não pára, a corda do nosso baloiço vai-se gastando, até que um dia partir-se-á... acaba a "folia", fica a nossa obra...
Aparte: Vasco Graça Moura fala na televisão... estou feliz...
7 comments:
Adoro Mário Sá Carneiro.
Um beijinho
Me tooo... mas eu sou suspeita adoro os Modernistas... nas suas várias áreas...
Beijinhos
pois a nossa vida é mesmo um baloiço...
beijo vagabundo
Hum...esse baloiço pode ser numa oliveira, fito com uma tábua de madeira pelas mãos de uma avó carinhosa? É que se puder...esse baloiço é meu...também é meu.
Beijos
Pensamentos Vagabundos:
Sem dúvida:)
Beijinhos
CordonBleu:
Claro... esta é uma metáfora para a vida humana. Adorei a tua imagem, com a avó carinhosa a empurrar, muito bonita e ao mesmo tempo recheada de significado, verdade?
Beijinhos
A vida é mesmo um baloiço.Gostei muito do texto. Agora o poema ' o indez morrer de bibe' até me deu arrepio. Coisas de avó...
Bjinhos.
Mário de Sá Carneiro usa muito o campo semântico da infância. Neste poema ele prefere que morra o menino, pois ainda é inocente, não está corrumpido do que já em adulto cheio de vícios e pecados. Claro que é assustador :O
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